Desde que me entendo por gente sempre tive medo de doença. Não
todas, mas dessas que vovó me fazia bater a mão na boca, dessas que não podiam
ser mencionadas pra não atrair.
Câncer é uma delas.
Engraçado, é o meu signo. Tolice.
O tal do Dr. era um meninote. Calmo, mas firme. Falava como quem
pisava em ovos, cautela pouca é besteira.
Aos poucos recuperamos o chão. Aquela consulta era valiosa para
ser desperdiçada com choro e vela. Depois faço isso. Em casa. Onde pitanga
nenhuma é drama.
Nada de carro na frente dos bois. Próximo passo biopsar para ai
sim saber que direção seguir.
Tudo encaminhado, fazendo isso em 10 dias teria a minha
sentença.
A volta pra casa nunca foi tão ríspida. Antes disso uma passadinha
rápida no Fran's Café. Garganta seca, precisávamos de algo que fizesse aquilo
descer goela a baixo.
Que idéia infeliz! Bateu no estomago que nem ácido.
- Uma média bacanizada e um pão de queijo por favor!
Enquanto ouvia os votos de esperança do meu pai e os pedidos de proteção
as divindades de minha mãe, senti o peso do mundo.
Pedi licença, fui tomar um ar. Ar? Não tinha ar! Nem chão, nem fé,
nem nada.
O mundo não me pareceu justo, e mesmo que fosse, não era a meu
favor.
Aqui se encerra a minha temporada das flores.
Chorei, bati o pé. Não! Não quero, não pode! Tudo não, não, não...
Que droga! Eu tenho 19 anos!
Tenho uma vida para colocar no trilho certo, não tenho tempo pra
ficar doente.
Havia traçado um plano, pretendia segui-lo. Volto de Londres, tiro
minha habilitação, começo uma nova faculdade... Tudo novo! Mas tudo
perdido...
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