A cirurgia estava programada para durar de três a cinco horas no máximo, durante todo esse tempo eu estaria no mais profundo sono e os meu queridos vivendo momentos de agonia.
Aconteceu que passamos das cinco horas, meu tumor estava grande e comprometeu mais que o esperado. Além da massa, foi retirado músculos, nervos e uma parte do pulmão esquerdo totalizando quase um kilo de massa. O que me custou um fôlego limitado e uma perda parcial de sensibilidade da mama esquerda. Confesso que isso ainda me incomoda muito.
Acabou que fiquei na mesa de cirurgia pouco mais de sete horas, quase oito. Piorando o nervoso dos meus pais e de muitos amigos que depois vieram me contar como foram as horas de espera. Eu, como previsível, não lembro de nada.
Mamãe disse que em um momento de desespero, sem noticias e passado a hora de eu sair do CC, meu pai tentou invadir o corredor que dá acesso as salas de cirurgia, a procura de qualquer noticia que pudesse tranquilizar todos que ligavam a procurando saber como estavam as coisas.
Sai do centro cirúrgico fui direto para UTI, passaria ali 3 noites por segurança. A cirurgia foi muito invasiva, fiquei extremamente debilitada. Além de tirar partes importantes, tive a caixa torácica serrada, sendo depois "costurada" com fios de aço, fazendo com que eu tenha dores de perder o sentido.
Hora da visita, na unidade intensiva do hospital se pode visitar os pacientes somente duas vezes ao dia, uma vez depois do almoço e outra vez de noite, algo assim.
A hora que comecei a despertar da anestesia foi um dos momentos mais nostálgicos que já vivi. Não lembro muito bem, estava sob o efeito de muitas drogas, mas foi uma sensação de felicidade plena. Lembro de fechar os olhos e agradecer a vida por estar ali, por te mais um chance. Eu nasci de novo. Senti uma lagrima escorrer, estava em fogos.
Passados alguns minutos acordo com a voz firme do meu pai já fazendo piada, minha mãe muito emocionada e em lagrimas me deu um beijo carinhoso na testa e um "Oi filha" que codificava todos os sentimentos do mundo, alivio, felicidade, preocupação ....
Como disse, minha memoria me trai por conta dos remédios, mas lembro de chamar por duas pessoas que são como pilares em minha vida, cada uma a seu modo, mas vitais para a minha caminhada: Amanda e o meu Anjo.
Adormeci mais uma vez, sonolenta que só eu ia e voltada. Perdi completamente a noção de hora. Até acordar com o calor das mãos do Anjo, quase não contive as lagrimas, ver o sorriso da minha parceira então... mais um turbilhão de emoções tomou conta de tudo ali.
Foi ai que eu me dei conta de uma coisa, eu sentia só o calor da mão dele, não o toque, a força. Eu havia perdido o movimento do braço direito....
Clichê, mas foi assim, meu mundo caiu ...
Um grito que nem divã resolveria. Um desabafo, um boletim médico... Chame como quiser! É a minha vida. Entre, fecha a porta e NÃO faça barulho.
terça-feira, 31 de julho de 2012
quarta-feira, 25 de julho de 2012
A cirurgia.
08/02/2012 - A noite anterior tinha sido conturbada, mas ainda sim vencida pelo cansaço. Acordei por volta das quatro da manhã, precisava estar no hospital as cinco para fazer check-in. Mala na mão, vamos lá. Deixei meu cachorro, o Nick, com um aperto muito grande, não sabia quando ia voltar, quando ia poder brincar com ele de novo... Talvez naquele momento, por alguns segundos, pensei que se tudo desse errado eu talvez nunca mais o veria, besteira. Respirei fundo e entrei no carro.
O caminho até o hospital foi calado, o rádio ligado parecia não incomodar ninguém, fazia um frio típico das manhã daquela estação e tinha uma neblina deixando tudo mais a flor da pele. Não me lembro das coisas que estava pensando, acho que me concentrei em admirar a paisagem, os últimos momentos de tranquilidade absoluta.
Chegando no hospital foi tudo muito rápido, mal entrei e já fui para o quarto de observação, sempre acompanhada de minha mãe é claro, meu porto seguro. Fiz alguns exames e passei com diferentes médicos, tudo para não haver falhas. O pré-cirúrgico foi um sucesso, eu estava pronta.
A equipe que ia me operar se atrasou um pouco, passado das sete, o horário que estava programada a cirurgia, comecei a sentir um frio na barriga. A qualquer momento eu teria que largar as mãos quentes e seguras da minha mãe e encarar a faca sozinha, confesso que não estava segura de estar realmente pronta pra isso... Alias, quem estaria pronto?
Quase oito horas, chega o meu transporte,o maqueiro muito simpático pediu que eu me deitasse que a sala estava pronta a minha espera. É agora ou nunca. Vamos a guerra!
O corredor até a ala do centro cirúrgico parecia interminável. Já na porta do CC o gentil maqueiro pediu que eu me despedisse dos meus pais que dali em diante era restrito.
Ainda não estava chorando mas um beijo doce e conturbado de esperança me fez desaguar. Meu pai com toda sua fé me olhou nos olhos ...
- Vá com Deus, vai dá tudo certo. Estamos aqui esperando por você.
- Eu te amo filha. Disse minha mãe com o mais sincero sorriso.
Perdi o controle, ver as postas se fechando diante dos meus pais me fez vulnerável. Não poderia fazer isso sem eles por perto ...
Com os olhos fechado fiz minha oração, horei pelos anjos que estariam ao auxilio daquela equipe e mais uma vez pedi ao Médico dos médicos que estivesse ali a minha espera. Que fosse operada primeiro pela minha fé, onde a cura era certa, para depois sentir o peso da minha condição humana.
Meu francês estava lindo como sempre, exibia um sorriso que me deu muita segurança. Vendo meu estado me pediu calma...
- Confie em mim, vai ficar tudo bem.
Respirei fundo e tratei logo de observar tudo que pude antes de adormecer, mas como não estava me contendo em lagrimas pedi logo que me apagasse.
Até daqui algumas horas...
terça-feira, 24 de julho de 2012
A última oraçao.
07/02/2012 - Finalmente, depois de tanto tempo de espera e muita angústia eu iria colocar um ponto final e virar a página. Horas antes da cirurgia oscilava de humor a cada segundo, se desse para medir como os batimentos cardíacos com certeza daria um belo humorgrama.
Minha cirurgia estava programa para as sete da manhã do dia seguinte com duração média de 3 a 5 horas. A incisão seria em formato de L , começando a três dedos para baixo do pescoço, como em uma cirurgia cardíaca, e continuando a esquerda, passando por de baixo da linha da mama. Fazendo um revolver com os dedos dá pra se ter uma noção do formato da cicatriz.
Tive um dia tranquilo, tratei de ocupar minha cabeça com outras coisas, apesar de ter recebido muitas ligações e mensagens não me deixando esquecer que amanhã seria o grande dia. Se hora minha vontade era de sair correndo, de fugir, também tive momentos em que exibia a coragem e a determinação de um touro, como se nada pudesse me atingir.
Tive medo, pânico, tudo ao mesmo tempo em que uma onda de pensamentos positivos me invadia, fazendo lembrar que aquilo seria para o meu bem, por mais cruel que parecesse. A essa altura do campeonato eu já havia restaurado toda a fé que eu tinha perdido com tanto desespero.
No silêncio do meu quarto fiz uma última oração antes de dormir. Agaixada em sinal de respeito pedi ao Médico dos médicos que me operasse. Pedi perdão pela raiva que me tomou a fé, por ter negado a cruz que me foi dada. No intimo profetizei minha própria cura, jurei me fazer forte o suficiente para levantar daquele leito e me permitir capaz de dar este testemunho.
Assim se fez.
A noite foi cruel. Estava perto o bastante da guerra para desistir. A vontade com que pedi minha benção abalou todas as minhas estruturas. Me senti fraca, como se toda coragem que alimentei durante dias tivesse desmoronado, estava em pedaços, levaria tempo para junta-los. Sempre fico vulneravel depois de entrar em comunhão com minha crença.
Não estava mais suportando o meu próprio silêncio, busquei aquele que carinhosamente chamo de Anjo. Me fez tranquila. Precisava de alguém para me lembrar que aquilo não é nada. Fiz deste o meu porto seguro, mal sabia que aquela seria o primeiro de muitos outros pedidos de socorro. O Anjo que me fora designado pelas própria mãos divina, é como o sinto. Um presente.
Só mais uma fase, mentalizava, como se a vida tivesse me dado uma segunda chance! Fazer diferente, ser diferente, porquê não? Esquece, muito utópico. O medo ainda me tirava o ar.
Dez da noite toca o telefone. Não poderia ser para outra pessoa, mas para minha surpresa quem estava do outro lado da linha era um senhor que por genética chamo de pai.
- Liguei porque sua mãe me pediu. Boa sorte amanha!
Foi o suficiente para sentir o peso da armadura que eu acabara de vestir. Fui traída.
Sempre tive a falsa ideia de que os pais são biologicamente programados para amar seus filhos, mas isso caiu por terra na mesmo momento que ouvi tão duras palavras. Meu próprio pai, um covarde.
Chorei tudo que deveria e que poderia até adormecer por falta de força.
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Friends!
Bom, pelo que andei ouvindo tem uns loucos lendo isso aqui! Já vou advertir, cuidado para não surtar comigo! Batidão é nervoso. Mas agradeço o carinho... Vou dar uma acelerada na historia, em duas semanas mais ou menos começo a quimioterapia, e quero escrever o dia a dia de como é tomar essa bandida.
Parei na doação. Passando isso aproveitei o ultimo final de semana do mês para curtir uma praia com uns velhos amigos. Não sabia quando eu ia poder ficar torrando no sol novamente, aquele efeito milanesa sabe? Sapeca de um lado e de outro, joga areia pra ficar crocante e vamos pro mar salgar a bunda.
Um pouco mais sobre mim, sou viciada em seriados! Warner o tempo todo, e bom, de todas as series que tem por ai, de longe a minha favorita é Friends ... " i'll be ther for youuuu "
Nos tempos de colégio ficava analisando as amizades, tentando acertar quem eu levaria pra vida, se iriamos ser como eles. Me frustrei, do colégio só ficou os mais íntimos. Previsível. Mas no cursinho, aquele lugar sombrio que vai sugar sua alma de tanto te fazer estudar e que no maximo vai lhe render uns colegas/concorretes que conheci a melhor turma do mundo, a quem dedico essa postagem.
No começo era meio complicado, conflito de interesses, uns estudando mais, outros menos. Mas com o tempo, entre um café e uma rodada de breja nasceu uma amizade incrível.
A praia foi maravilhosa, me distrai muito, boas risadas e muita historia pra contar. Quase virou caso de policia, nada serio. Por outro lado, ouvi muitas conversar sobre faculdade e o novo ano letivo. Ainda não tinha me dado conta que por hora eu seria o patinho feio, a única que não estava nem na faculdade e nem no cursinho. Fique mal com isso, e ainda fico.
Caiu a ficha de que minha vida foi interrompida, e isso é uma angustia que vem e vai. Por mais lucida que você seja e madura o bastante para entender que aquilo não é o fim e sim uma pausa, fica um desconforto e isso não tem remédio. Alias tem sim, mais paciência.
Alguns exames, doaçoes completadas com sucesso, vamos a cirurgia!
sábado, 21 de julho de 2012
Vamos doar sangue!
20/01/2012 - Depois de uma semana tentando diminuir o incêndio que se instaurou na minha vida voltei ao consultório do meu francês. Dessa vez falei e até sorri.
Assim que entramos na sala, eu e mamãe, comecei a reparar no meu Dr. , ele tinha um "x" a mais, o menino se criou no Rio. Formado veio para São Paulo fazer pós na USP, exibia o brasão da Escola de Medicina com muito orgulho, tinha a cara da riqueza.
Foi com essa minha curiosidade que começamos a nos aproximar, naquela consulta o francês malandro ganhou minha confiança. Tirei algumas duvidas, na verdade muitas, já que o nosso último encontro tinha sido um fiasco. Basicamente a consulta foi para colocar os pingos nos "is" e para nos orientar sobre a cirurgia.
Me pediu alguns exames, fez alguns encaminhamentos e a melhor parte de todas, me deu o dever de recrutar um certo número de doadores para o banco de sangue do hospital. Por ser uma cirurgia onde a perda de sangue pode vim a ser considerável, é protocolo sempre ter bolsas do mesmo tipo cosanguíneo do paciente disponível em caso de anemia.
Existe alguns bancos de sangue aqui em São Paulo, o hospital da Luz é abastecido pelo Hemocentro São Lucas. Na época, véspera de carnaval, o banco estava muito carente de doações, aproveitei para ajudar e fiz a minha parte. Eu precisa de três pessoas com o meu mesmo tipo consanguíneo, entre amigos e parentes arrastei pra lá mais ou menos 30 pessoas.
Descobri que com esse numero eu poderia ajudar quatro vezes mais. Uma única doação pode ajudar a salvar até 4 vidas! Isso porque o sangue é separada em plaquetas, plasma, leucócitos e eritrócitos. Segundo as estatísticas 1 de cada 3 de nós necessitará transfusões ao longo de nossas vidas e que a cada 2 segundos alguém precisa de transfusão de sangue. Então já deixo a dica. Vamos doar sangue!
E pra quem trabalha/estuda o atestado é valido pro dia todo, logo não tem desculpa!
Campanha - Hemocentro São Lucas
Assim que entramos na sala, eu e mamãe, comecei a reparar no meu Dr. , ele tinha um "x" a mais, o menino se criou no Rio. Formado veio para São Paulo fazer pós na USP, exibia o brasão da Escola de Medicina com muito orgulho, tinha a cara da riqueza.
Foi com essa minha curiosidade que começamos a nos aproximar, naquela consulta o francês malandro ganhou minha confiança. Tirei algumas duvidas, na verdade muitas, já que o nosso último encontro tinha sido um fiasco. Basicamente a consulta foi para colocar os pingos nos "is" e para nos orientar sobre a cirurgia.
Me pediu alguns exames, fez alguns encaminhamentos e a melhor parte de todas, me deu o dever de recrutar um certo número de doadores para o banco de sangue do hospital. Por ser uma cirurgia onde a perda de sangue pode vim a ser considerável, é protocolo sempre ter bolsas do mesmo tipo cosanguíneo do paciente disponível em caso de anemia.
Existe alguns bancos de sangue aqui em São Paulo, o hospital da Luz é abastecido pelo Hemocentro São Lucas. Na época, véspera de carnaval, o banco estava muito carente de doações, aproveitei para ajudar e fiz a minha parte. Eu precisa de três pessoas com o meu mesmo tipo consanguíneo, entre amigos e parentes arrastei pra lá mais ou menos 30 pessoas.
Descobri que com esse numero eu poderia ajudar quatro vezes mais. Uma única doação pode ajudar a salvar até 4 vidas! Isso porque o sangue é separada em plaquetas, plasma, leucócitos e eritrócitos. Segundo as estatísticas 1 de cada 3 de nós necessitará transfusões ao longo de nossas vidas e que a cada 2 segundos alguém precisa de transfusão de sangue. Então já deixo a dica. Vamos doar sangue!
E pra quem trabalha/estuda o atestado é valido pro dia todo, logo não tem desculpa!
Campanha - Hemocentro São Lucas
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Viva a moda lenço!
Aqui começa mais um período de espera e sobre tudo de muita paciência. Até fevereiro eu precisava dar um jeito de ocupar a cabeça e claro, não ficar doente. Que comece a bateria de exames.
Mas janeiro foi um mês que praticamente não passou. Os dias seguintes a consulta foi de muita dor. Recebi algumas mensagens me perguntando o que eu estava fazendo no facebook em Londres. Para muitos eu ainda estava Reino Unido a fora curtindo o melhor da vida. No começo preferi me preservar, não queria um mundo de gente me dizendo o que fazer ou como agir. Queria espaço, e muito.
Perdi noites de sono tentando entender ou simplesmente aceitar a minha condição. Como uma menina de 19 anos, com uma vida toda pela frente, não me julgando uma santa, mas não carrego tanto pecado assim pra merecer tamanho castigo. Devo ser uma péssima cristã ou fui uma moleca muito da levada.
Tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo e só me vinha cobranças. Eu tinha que ser forte, ter paciência, ter pensamentos positivos, ter maturidade, esquecer a porcaria da vaidade e opção que é bom nada. Não tinha outro caminho, era assim e pronto.
Cheguei a comentar com uma velha irmã amiga que aquilo tudo não me serviria de nada! Dizem que tudo na vida tem um lado bom, que as experiências boas ou não são de alguma serventia, que se pode colher bons frutos mesmo nos pés mais desgastados. Eu não acreditava nisso, pelo contrario, na minha cabecinha de alfinete aquilo era puro castigo, nada mais.
Bom, isso que vou dizer agora para muitos é tolice. Dentre as minhas milhões de preocupações, uma delas falava mais alto, alias, bem alto! A vaidade. Todo mundo tem um registro predominante, ou é auditivo, ou é visual ou é cinestésico. Eu sou visual, logo saber que ficaria com uma cicatriz enorme no peito me tirava o sono, mas não é só isso. Mesmo não sendo um modelo de ternura e beleza sempre fui muito feliz com meu corpo, gosto de me cuidar, de me sentir bem! Imaginar aquele rastro me deixava mal, como se fosse um intruso no ninho. Ainda que ligasse o "to nem ai" sei que sair por ai com aquela marca despertaria muito curioso, e acredite, não foi diferente.
Usar biquíni, praia? Nunca mais, e quanto a isso ainda não mudei de ideia., mesmo ela estando bem discreta, ainda tenho vergonha. Viva a moda lenço!
Mas janeiro foi um mês que praticamente não passou. Os dias seguintes a consulta foi de muita dor. Recebi algumas mensagens me perguntando o que eu estava fazendo no facebook em Londres. Para muitos eu ainda estava Reino Unido a fora curtindo o melhor da vida. No começo preferi me preservar, não queria um mundo de gente me dizendo o que fazer ou como agir. Queria espaço, e muito.
Perdi noites de sono tentando entender ou simplesmente aceitar a minha condição. Como uma menina de 19 anos, com uma vida toda pela frente, não me julgando uma santa, mas não carrego tanto pecado assim pra merecer tamanho castigo. Devo ser uma péssima cristã ou fui uma moleca muito da levada.
Tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo e só me vinha cobranças. Eu tinha que ser forte, ter paciência, ter pensamentos positivos, ter maturidade, esquecer a porcaria da vaidade e opção que é bom nada. Não tinha outro caminho, era assim e pronto.
Cheguei a comentar com uma velha irmã amiga que aquilo tudo não me serviria de nada! Dizem que tudo na vida tem um lado bom, que as experiências boas ou não são de alguma serventia, que se pode colher bons frutos mesmo nos pés mais desgastados. Eu não acreditava nisso, pelo contrario, na minha cabecinha de alfinete aquilo era puro castigo, nada mais.
Bom, isso que vou dizer agora para muitos é tolice. Dentre as minhas milhões de preocupações, uma delas falava mais alto, alias, bem alto! A vaidade. Todo mundo tem um registro predominante, ou é auditivo, ou é visual ou é cinestésico. Eu sou visual, logo saber que ficaria com uma cicatriz enorme no peito me tirava o sono, mas não é só isso. Mesmo não sendo um modelo de ternura e beleza sempre fui muito feliz com meu corpo, gosto de me cuidar, de me sentir bem! Imaginar aquele rastro me deixava mal, como se fosse um intruso no ninho. Ainda que ligasse o "to nem ai" sei que sair por ai com aquela marca despertaria muito curioso, e acredite, não foi diferente.
Usar biquíni, praia? Nunca mais, e quanto a isso ainda não mudei de ideia., mesmo ela estando bem discreta, ainda tenho vergonha. Viva a moda lenço!
quarta-feira, 18 de julho de 2012
O diagnóstico
13/01/2012 - Receio que esta postagem seja a mais delicada de todas. Receber este tipo de diagnóstico é quase tão duro quanto perder alguém. No instante em que se ouvi as palavras maligno e câncer, uma parte de você se afoga em desespero. Como disse, é um suicídio fictício.
Para ser sincera, não me lembro com detalhes daquela consulta. Só sei que foram muitos intervalos, entre palavras de conforto e planejamento. Desejei do fundo do meu coração poder sair correndo, eu precisava de espaço, tempo e ar para voltar ao plumo.
Benoit tentou explicar da melhor forma possível, mas depois de confirmar que realmente era um timoma maligno, assim como suspeitara, não ouvi mais nada. Havia perdido o chão, os sentidos, tudo... Me sentia traída por aquele que se diz bom, a ovelha fora do rebanho.
Na cadeira ao lado, mais uma vez, minha mãe por mais armada que estivesse também não conteve a dor do fardo que acabamos de receber. Não tenho filhos, mas acredito que não deve ser nada fácil para uma mãe ter um filho nessa condição. Pra quem se já se desesperou com um choro de cólica, imagina como não reage diante de um câncer...
Lembro-me de ouvir algo sobre radioterapia, quimioterapia e principalmente sobre cirurgia. Dessa eu não escaparia. Já tratamos logo da parte burocrática e a agendamos para o mês seguinte.
Agradeci a atenção e recebi um abraço de coragem. Voltaria na semana seguinte.
Corredor a fora, no momento que chegamos ao elevador comecei a dar sinal de choro, mas não poderia fazê-lo ali. Em publico não. Esperei chegar ao nosso bom e velho café.
Mais uma vez me retirei da mesa, não tinha assunto. Até mesmo meu pai, o cara das palavras de conforto estava calado. Fui chorar...
Amparada pela parede, me vi totalmente descontrolada em lagrimas. Sentia uma raiva que nem mesmo quebrar pratos resolveria, e uma tristeza que até fez o tempo fechar. Não tinha onde me apoiar, colo nenhum resolveria, e qualquer palavra de conforto doía como estacas cravadas no peito. Chorei a ponto de perder os sentidos, de prender a respiração, até cair sentada de tão tremula.
De cabeça baixa e totalmente desiludida senti as mãos quentes de minha mãe, limpou as minhas lagrimas e me levantou como quem dá a mão a um ferido em batalha. Fiz de suas pernas as minhas.
Fomos pra casa...
Para ser sincera, não me lembro com detalhes daquela consulta. Só sei que foram muitos intervalos, entre palavras de conforto e planejamento. Desejei do fundo do meu coração poder sair correndo, eu precisava de espaço, tempo e ar para voltar ao plumo.
Benoit tentou explicar da melhor forma possível, mas depois de confirmar que realmente era um timoma maligno, assim como suspeitara, não ouvi mais nada. Havia perdido o chão, os sentidos, tudo... Me sentia traída por aquele que se diz bom, a ovelha fora do rebanho.
Na cadeira ao lado, mais uma vez, minha mãe por mais armada que estivesse também não conteve a dor do fardo que acabamos de receber. Não tenho filhos, mas acredito que não deve ser nada fácil para uma mãe ter um filho nessa condição. Pra quem se já se desesperou com um choro de cólica, imagina como não reage diante de um câncer...
Lembro-me de ouvir algo sobre radioterapia, quimioterapia e principalmente sobre cirurgia. Dessa eu não escaparia. Já tratamos logo da parte burocrática e a agendamos para o mês seguinte.
Agradeci a atenção e recebi um abraço de coragem. Voltaria na semana seguinte.
Corredor a fora, no momento que chegamos ao elevador comecei a dar sinal de choro, mas não poderia fazê-lo ali. Em publico não. Esperei chegar ao nosso bom e velho café.
Mais uma vez me retirei da mesa, não tinha assunto. Até mesmo meu pai, o cara das palavras de conforto estava calado. Fui chorar...
Amparada pela parede, me vi totalmente descontrolada em lagrimas. Sentia uma raiva que nem mesmo quebrar pratos resolveria, e uma tristeza que até fez o tempo fechar. Não tinha onde me apoiar, colo nenhum resolveria, e qualquer palavra de conforto doía como estacas cravadas no peito. Chorei a ponto de perder os sentidos, de prender a respiração, até cair sentada de tão tremula.
De cabeça baixa e totalmente desiludida senti as mãos quentes de minha mãe, limpou as minhas lagrimas e me levantou como quem dá a mão a um ferido em batalha. Fiz de suas pernas as minhas.
Fomos pra casa...
segunda-feira, 16 de julho de 2012
inFeliz ano novo!
Mala feita, caminho da roça.
A viagem é longa, mas nada de pressa, vamos parando em tudo que é posto. Aquele balanço todo me torturava, por precaução fui no banco da frente, o mais confortável possível. Sinceramente minha vontade de pegar a estrada estava quase negativa.
Só teria o resultado da biopsia dia 10, até lá não importa onde eu estivesse, nem com quem, eu ia ficar pensando nisso. E bem, aos 19 anos já tinha vivido muita coisa, aquela historia de minha vida daria um livro é bobagem, a minha estava mais pra trilogia.
Aprendi que quando se espera o pior, e o pior acontece, sofremos menos. Não que eu não sigo os adeptos do pensamento positivo, acho isso muito valido e real, mas naquele momento eu me armei para o pior, tenho tendência a sofrer por antecipação.
A ideia da viagem foi pra ver se o tempo passava mais rápido, pra eu me distrair. Que tolice! Não sabe que tudo que é bucólico se perde no tempo? Ou talvez seja a correria da cidade cinza que distorce tudo... Não sei! Não importava, minha cabeça estava ocupada traçando todas as possibilidade que tinha pela frente, mais ou menos como joguinho de ligue os pontos.
Ter sua vida determinada por um exame é frustrante. Quase sempre tive controle das coisas, ao menos tinha opçoes. Dessa vez não.
Noite de ano novo, todo mundo se arrumando, fomos a cidade ver os fogos. Sai do banho e fui pro quarto me aprontar. Minha mãe me comprou um vestido branco, de rendas, ficou perfeito! Se não fosse por um detalhe, eu não tinha o que celebrar!
Sentada ainda de toalha passou um filme na minha cabeça, 2011 foi um ano muito bom, mas o que estava por vim eu não tinha ideia de como seria. Se estava começando assim, coisa boa eu não podia esperar. Estava me sentindo péssima, sentia as lagrimas molhando ainda mais minha toalha quando minha mãe entrou no quarto me apressando. Não tinha a mínima vontade de levantar. Aos mesmo tempo que me sentia culpada por causar aquela situação na véspera de ano novo, não tinha força nem mesmo pra fingir um sorriso. Ouvi muitos votos de fé, mas não sabia onde buscar.
Perdizes tem uma estatua do Cristo, era de lá que vinhas os fogos. Onde passei minha infância, todo ano tinha o campeonato de fogos de artificio, jogos de luzes desaparecendo no ar sempre tem um gostinho especial.
Contagem regressiva, um último fôlego pro ano que se encerra e vamos aos abraços.
Aqueles dias em Minas foi bom, apesar de não ter me aliviado em nada.
Respira e prende!
Depois de um café da manha não muito agradável, o bonitão do Benoit deu as caras.
- Bom dia! Como passou a noite?
O meu sorriso forçado denunciou tudo. Tive uma péssima noite, não teve santo que me ajudasse a achar uma posição pra dormir. Acabei pegando no sono sentada, o que me rendeu uma dor nas costas, como se as que eu já estava sentindo não fossem suficientes para me tirar o humor.
Me pediu pra ver o curativo, eu mesma ainda não havia visto. Depois de tirar um monte de esparadrapo, quase me arrancando o coro, vi o tamanho do corte. Estava vermelho e inchado, menor que imaginei, devo confessar, mas ainda sim grande o suficiente pra me ferir a vaidade. Algo em torno de 10 centímetros, o mais aterrorizante era ver o dreno saindo dali. Que coisa mais esquisita, com ponto de linha preta, nada agradável. Para o meu alivio não ia ter que passar mais uma noite com aquilo, no final da tarde voltaria pra me libertar e no dia seguinte, alta.
De longe a coisa que mais aborrecia naquele hospital era a comida, como que alguém melhora comendo uma comida tão mal temperada, isso é, quando tinha tempero! Ainda bem que minha dieta estava liberada, tratei logo de traçar um Big Mac. Ainda sim lembrei do bandejão de Rio Claro, descobri que tem coisa bem pior. Maldade.
Entra o francês com uma bandeja cheia de materiais, hora da libertação. Me arranca mais um pouco de pele tirando os adesivos, corta as linhas que costurava minha pele prendendo o dreno e vamos pros finalmente.
- Respira, respira, respira, prende!
Cacete! Me perdoe a falta de modos. A dor foi mais que aguda, pude senti-la no âmago. Deve ter me arrancado parte da alma junto com aquela mangueira. Respira aqui e ali e tudo parece ter voltado pro seu devido lugar.
Só mais um noite e teria minha alta. Já estava mais contente, ou melhor, conformada com aquela situação. A noite foi bem mais agradável e tranquila. Dormi bem até.
Dia seguinte foi pura expectativa, não via a hora de voltar pra casa, minha cama nunca me pareceu tão aconchegante! Recebi minha alta de tardezinha, coisa boa ver a rua, nem to transito reclamei!
Chegando em casa foi só festa, recebida com toda poupa e circunstância!
Agora é esperar, alias, aprender a esperar. Minha biópsia só sairia no ano seguinte, depois das festas. Apesar de estar em casa ainda me sentia um tanto debilitada, aquele corte não me dava folga, latejava o tempo todo, desejei não ter peitos ou quem fossem bem menores. Resolvemos passar a virada de ano nas minas de ouro das montas gerais.
Uma má ideia ?
- Bom dia! Como passou a noite?
O meu sorriso forçado denunciou tudo. Tive uma péssima noite, não teve santo que me ajudasse a achar uma posição pra dormir. Acabei pegando no sono sentada, o que me rendeu uma dor nas costas, como se as que eu já estava sentindo não fossem suficientes para me tirar o humor.
Me pediu pra ver o curativo, eu mesma ainda não havia visto. Depois de tirar um monte de esparadrapo, quase me arrancando o coro, vi o tamanho do corte. Estava vermelho e inchado, menor que imaginei, devo confessar, mas ainda sim grande o suficiente pra me ferir a vaidade. Algo em torno de 10 centímetros, o mais aterrorizante era ver o dreno saindo dali. Que coisa mais esquisita, com ponto de linha preta, nada agradável. Para o meu alivio não ia ter que passar mais uma noite com aquilo, no final da tarde voltaria pra me libertar e no dia seguinte, alta.
De longe a coisa que mais aborrecia naquele hospital era a comida, como que alguém melhora comendo uma comida tão mal temperada, isso é, quando tinha tempero! Ainda bem que minha dieta estava liberada, tratei logo de traçar um Big Mac. Ainda sim lembrei do bandejão de Rio Claro, descobri que tem coisa bem pior. Maldade.
Entra o francês com uma bandeja cheia de materiais, hora da libertação. Me arranca mais um pouco de pele tirando os adesivos, corta as linhas que costurava minha pele prendendo o dreno e vamos pros finalmente.
- Respira, respira, respira, prende!
Cacete! Me perdoe a falta de modos. A dor foi mais que aguda, pude senti-la no âmago. Deve ter me arrancado parte da alma junto com aquela mangueira. Respira aqui e ali e tudo parece ter voltado pro seu devido lugar.
Só mais um noite e teria minha alta. Já estava mais contente, ou melhor, conformada com aquela situação. A noite foi bem mais agradável e tranquila. Dormi bem até.
Dia seguinte foi pura expectativa, não via a hora de voltar pra casa, minha cama nunca me pareceu tão aconchegante! Recebi minha alta de tardezinha, coisa boa ver a rua, nem to transito reclamei!
Chegando em casa foi só festa, recebida com toda poupa e circunstância!
Agora é esperar, alias, aprender a esperar. Minha biópsia só sairia no ano seguinte, depois das festas. Apesar de estar em casa ainda me sentia um tanto debilitada, aquele corte não me dava folga, latejava o tempo todo, desejei não ter peitos ou quem fossem bem menores. Resolvemos passar a virada de ano nas minas de ouro das montas gerais.
Uma má ideia ?
Biópsia - round 2.
27/12/2011 - De volta ao hospital, dessa vez eu não poderia me dar o capricho de ter ataques de fobia ou crises de medo. Dá ou desce.
Interna, entra de jejum... a mesma ladainha. Horas mais tarde vem o maqueiro me buscar. Mas dessa vez não era uma cadeira de rodas, mas sim uma cama digna de sala de cirurgia.
Pegamos o elevador, subsolo. Quem conhece o hospital da luz do Ana Rosa sabe que debaixo da rua existe um túnel que dá acesso aos dois prédios do hospital. Eu já tinha passado por ali horas mais cedo, mas cá entre nos, não me pareceu tão assustador como quando passei por ali de maca. Ali sim dava a impressão de que eu ia pro abate, me senti a caminho de uma sessão cobaia.
Já no andar do centro cirúrgico, meu coração disparou. Apesar de ser um procedimento simples, nunca tinha passado nada parecido. Minha última visita a uma sala de cirurgia aconteceu a mais de 19 anos, e minha mãe estava junto! Babaca.
Entrei pelo corredor de acesso restrito. Deixar meus pais foi horrível, ao mesmo tempo que a firmeza com que segurou minha mão e a ternura de um beijo na testa me fez forte o suficiente.
Meu momento House. Achei o máximo aquela aparelhada toda. Meu francês de avental verdinho estava checando as facas. Logo que me viu deu um sorriso sacana e fez piada, sabia que eu estava apavorada, talvez aquele foi o jeito que encontrou de me deixar mais tranquila. Funcionou.
Entra instrumentista, enfermeira... de calmo o CC não tinha nada! O mais legal disso tudo é a conversa da galera... Você viu a novela ? Seguido de... Bisturi, confere?
Minha anestesista era japonesa, muito engraçada! Viu minha unha feita e mandou um enfermeiro tirar meu esmalte... Não me lembro muito dele, só sei que fez piada se posando de gay.
- Anna, você não vai querer lembrar disso então ........
Dormi. Alias, morri. Não lembro de absolutamente nada.
Acordei já no quarto, me sentindo muito mal. Meu mundo parecia dar voltas, meu estomago estava horrível! No primeiro movimento senti os curativos presos na minha pele, vários deles. Ao movimentar minha mão direita senti uma bolsa de plastico, era o tal dreno.
Dreno é um tubo que fica inserido em uma determinada região para drenar gases e eventuais secreções. O meu estava bem ao lado da incisão! Foi feito um corte de mais ou menos 10 centímetros logo abaixo do meu seio esquerdo e rente a ele foi colocado o dreno. Aquela mangueira quase me matou. Por estar alojando próximo ao meu pulmão e ao tumor, qualquer movimento me feria a alma.
Dale remédio pra conter tanta dor. Anestesia só é maravilhosa na hora do vamos ver, depois causa uma ânsia sem tamanho. Calor e frio, tudo ao mesmo tempo. Minha pressão estava pior que montanha russa.
Primeira tentativa de levantar da cama foi frustada! Pressão caiu, estomago embrulhou, comecei a chorar. Pedia a minha mãe que fizesse aquela coisa ruim passar. Que desespero! Com muita calma e paciência conseguir dar os primeiros passos, claro que com ajuda. Fui ao banheiro e voltei.
Ganhei o dia.
domingo, 15 de julho de 2012
Luzes, peru e chester.
As poucas horas que passei na sala da tomo foi o suficiente pra mamãe entrar em parafusos.
- Eae, como foi? Porquê você está com essa cara?
Devia estar pálida como neve. Mais de oito horas de jejum não é pra qualquer um.
A reação não poderia de ter sido outa. Um combinado de raiva por eu ter dado "pit" e de nervoso por mais uma vez ter que adiar aquele bendito exame.Mas ela me conhece o bastante pra saber que fui ao meu limite. Perdoada.
Bom, agora não tem jeito. Vamos pra faca!
No dia da consulta, o francês ( meu medico, Dr. é muito formal) tinha me dito que poderia ser feito por meio cirúrgico. É um pouco mais invasivo, mas por outro lado colhe mais material pra análise, o que é bom.
Quase natal, achamos melhor deixar isso pra depois.
Volto pra casa, passo um natal em família e depois volto pro hospital. Não tinha como dar errado.
Luzes, peru, chester ... Tudo nos conformes, assim como manda o figurino.
Sempre gostei de casa cheia, mas confesso que não sou chegada em crianças, o que não se aplica aos meus primos. Um trio danado de bom. Gosto de como me fazem despreocupada, talvez neles encontro meu botão de escape. Especialmente a uma certa srta.causadora que ouso chamar de minha filha nas horas vagas, a quem dedico esta postagem.
Natal sempre me remeti coisas boas, não to falando dos presentes! Quero dizer, tembém ... Mas estou falando da energia, daquela coisa gostosa de juntar todo mundo, de ter uma frase a mais nas conversar curtas de elevador.
Ter uma chaminé em casa dava um gosto especial a tudo isso.
Apesar de tudo, naquele ano foi diferente. Um tanto mais triste, mais vazio. A ausência da vovó Lurdes se fez presente e muito firme. E não nego, pouco soube disfarçar a tristeza que me cabia. Por um instante desejei que ela estivesse ali, com sua fé inabalável me dando colo e profetizando um final feliz.
Pra evitar choradeira, me retirei por alguns minutos. Busquei conforto no silencio do meu quarto.
Era evidente que todos sentiam aquela falta, assim como também se fez notório a preocupação com a minha saúde e mais que isso, com a minha tristeza.
Mesmo gostando de participar das travessuras das crianças, não tinha pique pra isso. Estava concentrada entre tomadas de fôlego e sorrisos discretos.
A meia noite, pode parecer tolice, mas pedi ao bom velhinho que tivesse uma boa notícia nos próximos dias.
A meia noite, pode parecer tolice, mas pedi ao bom velhinho que tivesse uma boa notícia nos próximos dias.
Assim se deu a noite de natal.
sábado, 14 de julho de 2012
Biópsia - round 1.
21/12/2011 - Sete da manhã. Dei entrada no hospital,
meu mal humor era tamanho que nem eu estava me suportando.
Pelo protocolo entraria de jejum as
oito para fazer a tal biopsia as duas da tarde, no dia seguinte voltaria pra
casa e em 10 ou 15 dias teria o resultado. Até ai tudo bem!
Meu estomago revirada, parecia
haver borboletas dentro dele.
Não tinha ideia de como seria o
procedimento, meu medico não aparecia, comecei a ficar com fome... Pra
variar!
Duas da tarde e nada. Comecei a
ficar nervosa de verdade! Como queria que aquilo acabace logo... Mas sabe
aquela coisa de que quando alguma coisa pode
dar errado, dará errado da pior maneira possível? Pois é.
A médica que iria fazer a biopsia simplesmente faltou e não
comunicou o hospital. A tonta ficou não sei quantas horas de jejum pra nada.
Revoltante.
Um parêntese, aquele tipo de procedimento, por não se tratar
uma biopsia comum, só era realizada em dias específicos! Sendo assim
a próxima data seria dia 23, com uma grande probabilidade de eu
passar a noite de natal em observação! A coisa ficou preta. Isso eu não ia
suportar de maneira alguma.
Como toda boa mãe,
a minha virou uma leoa. Eu precisava fazer aquela biopsia o quanto antes! Minha
corrida contra o tempo já havia começado...
Diante da urgência do caso, o
hospital disponibilizou um outro medico, mas que faria a biopsia só no dia
seguinte. Sem problemas! Tudo a passar a noite comendo um peru sem sal.
Minha primeira noite internada,
quase não dormi. Tudo ali me incomodava! A cama, o banheiro esquisito, a comida
então...
Amanheceu, vem o maqueiro me buscar
pro abate. Ainda tudo sob controle, respirava cada vez mais fundo pra vê se não
abria o berreiro.
Sala de cirurgia? Não! Entramos
numa sala com um tomógrafo! Aquele aparelho em formato de anel que você fica entrando
e saindo enquanto ele te filma por dentro. Nada muito assustador, mas eu já não
gostei. Aquilo me deixou bem desconfortável.
Entra a equipe que vai realizar o procedimento
e a mesa com faca, agulha e todo o aparato necessário. Medo!
Uma das enfermeiras, muito gentil,
me pediu que deixasse os seios a mostra. A incisão seria logo abaixo
do meu seio esquerdo por meio de uma agulha que iria sugar o material a ser
analisado. Não podia ficar pior, tinha pânico de agulha! Ainda mais uma como
aquela, parecida com filme de ficção.
Saiu todo mundo! Começa a
tomografia... Ué! Eu havia acabado de fazer uma, pra que fazer de novo?
Acontece que o pedido foi não de
uma biopsia comum, mas sim de uma guiada por tomo. Quero dizer, eu iria ficar
com o corpo parcialmente dentro do aparelho enquanto um médico enfiava uma
agulha de baixo do meu peito. Desespero começando em 3, 2, 1...
Senti uma luz vermelha, um ponto,
na direção do meu peito. Ali seria o local da injeção.
Todo mundo volta pra sala, a
tortura ia começar. A essa altura eu já estava pedindo pra sair!
Esteriliza, isola o local com pano cirúrgico
para não infectar e vamos a anestesia.
Respira fundo e conta até 3....
Aiiiiiiii! Senti a agulha me atravessando a alma. De longe a pior anestesia da
minha vida!
Espera mais 5 minutos e vamos
acabar logo com isso de vez. O medico pegou a agulha de biopsia. Meu coração
começou a disparar, respiração cada vez mais ofegante!
Enquanto injetava aquele canudo em
mim, senti meus dedos atrofiarem de tanta força que fazia pra não gritar, mas
as lágrimas não tive como conter.
- A agulha já está em posição,
vamos começar a drenar.
Quando achava que o pior já tinha
passado... crise de pânico! Uma dor tão aguda que me fez perder os
sentidos.
Suspende tudo! Vendo o meu estado,
a enfermeira pediu que o médico se retirasse para eu me recompor.
Tremia muito, me faltava o ar.
Cheguei no meu limite.
O medico, mesmo me vendo em tal
estado insistiu que desse continuidade. A enfermeira interviu.
-Ela não tem condições de
continuar.
Voltamos pro quarto...
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Chutei o balde.
Mesmo sendo menina
que já não tinha mais idade para fazer bico e cara feia, fiz!
Por dias travei um suicídio fictício.
Me jogar da primeira ponte? Não. Isso não. Deus me deu um câncer e não asas.
Ué...câncer? Nem havia feito a tal da biopsia e eu bati o martelo decretando o juízo. Embriagada de medo talvez.
Hora de dormir, uma pausa pro fôlego. Como odiava aquele silêncio. Cabeça vazia é obra do diabo.
Por dias travei um suicídio fictício.
Me jogar da primeira ponte? Não. Isso não. Deus me deu um câncer e não asas.
Ué...câncer? Nem havia feito a tal da biopsia e eu bati o martelo decretando o juízo. Embriagada de medo talvez.
Hora de dormir, uma pausa pro fôlego. Como odiava aquele silêncio. Cabeça vazia é obra do diabo.
Por horas alimentava meus monstros. E eram, aliás ...
são tantos! Pela manha me esgotava.
Saber que tem gente com uma conta bancária mais ferrada que a sua ou uma dor de cabeça mais forte que a sua te
deixa mais conformado?
Não. Então dá licença que eu vou chutar o balde.
Confesso que mesmo lúcida de todo o avanço da medicina, todos os
aparatos que tinha a minha disposição, não ignorei a ideia de morte. E isso não
é passageiro coisíssima nenhuma!
A morte se torna uma pulguinha na sua orelha. Mas dá pra
ignorar.
E a vaidade, onde fica? Depois dedico uma postagem pra esse
assunto. Muito polêmico falar disso...
Querendo ou não estava preste a ganhar uma cicatriz nada discreta
e uma careca provisória.
Me ver tão blasé deixou todos preocupados!
- Anna! Não se entrega, pensamento positivo! Se você ficar assim não vai melhorar..
PARA! Não acha que é maldade de mais falar uma coisa dessa? Como se o meu estado de espirito fosse determinar o resultado daquele exame?
Esse fardo não!
Vamos a biópsia.
Nem chão, nem fé, nem nada.
Vi meu maior fantasma tomando forma, se tornando real.
Desde que me entendo por gente sempre tive medo de doença. Não
todas, mas dessas que vovó me fazia bater a mão na boca, dessas que não podiam
ser mencionadas pra não atrair.
Câncer é uma delas.
Engraçado, é o meu signo. Tolice.
O tal do Dr. era um meninote. Calmo, mas firme. Falava como quem
pisava em ovos, cautela pouca é besteira.
Aos poucos recuperamos o chão. Aquela consulta era valiosa para
ser desperdiçada com choro e vela. Depois faço isso. Em casa. Onde pitanga
nenhuma é drama.
Nada de carro na frente dos bois. Próximo passo biopsar para ai
sim saber que direção seguir.
Tudo encaminhado, fazendo isso em 10 dias teria a minha
sentença.
A volta pra casa nunca foi tão ríspida. Antes disso uma passadinha
rápida no Fran's Café. Garganta seca, precisávamos de algo que fizesse aquilo
descer goela a baixo.
Que idéia infeliz! Bateu no estomago que nem ácido.
- Uma média bacanizada e um pão de queijo por favor!
Enquanto ouvia os votos de esperança do meu pai e os pedidos de proteção
as divindades de minha mãe, senti o peso do mundo.
Pedi licença, fui tomar um ar. Ar? Não tinha ar! Nem chão, nem fé,
nem nada.
O mundo não me pareceu justo, e mesmo que fosse, não era a meu
favor.
Aqui se encerra a minha temporada das flores.
Chorei, bati o pé. Não! Não quero, não pode! Tudo não, não, não...
Que droga! Eu tenho 19 anos!
Tenho uma vida para colocar no trilho certo, não tenho tempo pra
ficar doente.
Havia traçado um plano, pretendia segui-lo. Volto de Londres, tiro
minha habilitação, começo uma nova faculdade... Tudo novo! Mas tudo
perdido...
Timo?
Primeira consulta com o tal cirurgião. Pra começo de conversa esperava um senhor, cabeça branca e fala mansa. Alguns minutos de espera... A essa altura já comecei a desconfiar que a ordem da coisa fosse ser paciência. Dito e feito.
- Anna Caroline Narita. Ele pronunciou errado ¬¬''
Vamos ao caso. Contei a ele tudo que havia acontecido até ali. Notei uma cara de surpresa, mas muito firme. Senti segurança.
De fato era um tumor. Taí uma palavra que assusta. Um alien alojado no meu peito, que horror!
- Anna, trata-se de um tumor, de tamanho considerável. Vai ser preciso biopsar e depois extrair.
Calma! Biópsia, já vi isso. Onde? Ahh, House. Putz... tem agulha! Uma Sra. Agulha.
A essa altura nem preciso dizer que estava em pânico. O choro escorria sem eu perceber. Na cadeira ao lado minha mãe parecia desmoronar a qualquer momento.
Minha teimosia em contestar e perguntar tudo me fez forte.
- Vamos lá Dr quero sua opinião sincera. Mesmo que não tenha certeza do que se trata, quero sua posição. Quais são os possíveis diagnósticos?
Ué... Cadê aquela menininha chorona com pena de si mesma ?
Entendi que ali eu precisava ser firme, falar grosso se necessário. Manha não ia ajudar em nada. Já que é pra encarar essa de frente, nada de lamentações, não ali.
- Veja bem... uma massa pode ser muita coisa. Complicado te fazer uma avaliação sem a histologia. Não quero te assustar. Vamos com calma...
Não! Aquilo não fez nem cocegas. Precisa de algo mais concreto. Mesmo sabendo da minha tendência a surtos e sofrimentos antecipados, insisti.
- Dr. agradeço a sua preocupação, mas sou curiosa de mais pra esperar tanto tempo.
Ele finalmente cedeu. Meu comportamento de criança em fase do "porque?" não lhe deixava escolhas.
- Acredito que seja uma mutação no timo. Um órgão linfático, ligado a autoimunidade. Um timoma talvez.
Certo, vamos processar a informação... Não entendi nada!
Acho que minha cara de “Oi?” foi o suficiente para ele dar continuidade.
- O timo é um órgão que ao longa da vida involui e é substituído por tecido adiposo. No seu caso foi o processo inverso, ele se vascularizou e cresceu.
Melhorou, mas ainda sim preciso de mais. Perguntei o que era timoma.
- Timoma é um tumor incomum. Pode ser tanto benigno, por tanto apenas se extrai, ou maligno. Mais uma vez preciso saber a histologia desse corpo.
A guerra estava travada. Ou eu parava por ali, ou então respirava fundo e dava a cara à tapa. Pedi que continuasse...
- Posso estar errado, mas me parece ser um timoma de natureza maligna.
Desmoronei.
quarta-feira, 11 de julho de 2012
Qualé?
Primeira parada sem
sucesso. Hospital Alvorada não fazia parte do meu plano.
Próximo destino, Hospital da Luz do Ana Rosa. Justo lá... Onde passei 2 anos
da minha vida estudando por um sonho, obriga por isso ETAPA. Onde conheci
pessoas incríveis. Devo ter uma ligação com esse lugar, só pode.
P.A... Sabe como é! Depois de quase uma hora fui atendida. Uma
doutora, tinha cara de recém-formada, muito bonita por sinal. Contei o
que havia acontecido.
Sem saber o que fazer pediu licença e se retirou... 10 minutos e um silencio
absoluto. Não sabia quem estava mais assustado, eu ou meus pais.
Ela voltou lamentando.
- Não posso fazer nada por você agora. Mas consegui um encaixe com o Dr.
Benoit J. pra quarta-feira, ele é ótimo. Estará em boas mãos.
Que Deus ilumine aquela mulher. Colocou no meu caminho um anjo.
Voltamos pra casa ainda em silêncio, nada de lágrimas! Foi um trauma muito
grande, não tinha o que chorar. Estava seca, minha boca amargava.
Ai alguém olha pra você e diz:
- Anna, tenha fé, tudo dará certo. Deus tem um plano pra você. Ele é bom.
Sabe o que faz.
Para! Bom? Pra quem? A seis meses tirou de mim a pessoa mais maravilhosa que
já conheci, e fez isso de maneira quase que inaceitável, me pareceu castigo.
Morrer de acidente não me parece fazer parte de um plano. Mariane Faganello foi
a melhor coisa que me aconteceu naquele ano.
Mas isso não foi o bastante! 20 dias depois levou a velhinha mais bacana com
quem já convivi.. Vovó Lurdes era um primor. Como sinto sua falta...
Agora me diz: Qualé Deus?
Não Pensa ...
Aquilo definitivamente me tirou o norte.
E agora? Sentada na ponta da cama minha cabeça dava voltas. Não sabia se
ligava pra agencia de turismo, se manda tudo pra casa do chapéu ou se
chorava.
Espera! Juliana A... Minha parceira de viagem, de UNESP, de tudo. A duas
horas tinha me mandado uma mensagem pedindo que levasse uma saia a mais na
mala. Faltou-me coragem de ligar... Deixei o trabalho pra mamãe que a essa
altura já parecia ter se recomposto.
Ainda estava em choque. Um telefonema e todos os meus planos caíram por terra.
Não é justo.
- Não pensa Anna!
Dizia a mim mesma.
Entrei no carro e fomos pro hospital.
Pode esperar.
Lágrimas
recolhida. Após 10 ou 15 minutos sentada na calçada, uma senhora sensibilizada
pelos meus olhos inchados, gentilmente me ofereceu um copo d'água.
- Calma
menina! Tudo ficará bem. Tenha fé...
Cabeça
erguida, vamos lá! O balanço do busão me aguardava. Como de costume, ônibus
cheio. Gente dormindo, falando, comendo... e um silencio infinito! Não me
lembro de transito, muito menos como cheguei em casa. Devo ter ligado o piloto
automático. Pensar me causaria náuseas...
Abro a
porta do quarto e tenho a leve impressão de passado o Catrina por lá! Roupa,
sapato, documento... ah! Lembrei! Londres... Tenho muito que fazer.
Tentando
colocar ordem no poleiro, coloquei na cabeça que não havia de ser nada muito
grave. Deve ser só um cisto. Tinha um desses na mão, ele ia e voltava. Nada sério...
Pode esperar!
17/12/2011.
Sábado... mais um dia de correria. Essa minha aventura tava me dando uma
canseira danada. Mas serei recompensada! Nada que um bom chá inglês não resolvesse...
Quase entrando no banho o celular toca.
Mensagem!
- Bom dia Anna Caroline, aqui é o Dr. X. Seu caso
me foi encaminhado pela Dr. Vera Lúcia. Analisei seus exames e recomendo que
procure um hospital para realizarmos a biopsia dessa massa.
Curta e simples. Beleza, posso voltar pro meu banho?
- Mãe, o medico mandou uma mensagem, liga pra ele
se você quiser. To indo pro chuveiro.
Não posso enrolar muito, mentalizei um mantra e
acalmei os nervos.
Mal sai do box, minha mãe abre a porta sem a
menos cerimônia com cara de desespero já em lágrimas...
- Anna, não tem mais viajem. Se veste, vamos para
o hospital, você precisa ser internada.
“Meu mundo caiu...” (Maysa).
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